Recordar Tomás Jorge
sexta-feira, 2 de abril de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
A Grandeza de Angola
Em 15 de Agosto de 1934, o jornal “A Província de Angola” publicava um número extraordinário dedicado à Exposição Colonial Portuguesa e em honra da Restauração de Angola (sic).
A capa, da autoria de Lafayette, uma velha família que ainda continua em Angola, vale por si só, pela sua curiosidade e também pela sua actualidade.
Pode ser utilizada agora no aspecto conceptual. A grandeza de Angola ainda agora pode ser assim representada. Saibam os angolanos merecer essa grandeza e tornarem-na maior como pátria verdadeira de todos os seus filhos.
Em 15 de Agosto de 1934, o jornal “A Província de Angola” publicava um número extraordinário dedicado à Exposição Colonial Portuguesa e em honra da Restauração de Angola (sic).
A capa, da autoria de Lafayette, uma velha família que ainda continua em Angola, vale por si só, pela sua curiosidade e também pela sua actualidade.
Pode ser utilizada agora no aspecto conceptual. A grandeza de Angola ainda agora pode ser assim representada. Saibam os angolanos merecer essa grandeza e tornarem-na maior como pátria verdadeira de todos os seus filhos.
domingo, 21 de março de 2010
Em Louvor de Tomás Jorge
Vivendo eu em Angola desde 1963, quando o amigo Tomás Jorge, que hoje homenageamos a propósito do 1º aniversário da sua morte, vivia em Lisboa, só em 1975 viria a conhecê-lo, na companhia do Jorge Macedo, outro amigo recentemente desaparecido, com quem partilhava há muito anos convívio pelo menos semanal.
Depois do meu regresso a Portugal, em 1981, viria a encontrá-los de novo juntos, primeiro no João do Grão, onde nos passámos a encontrar semanalmente para degustar o famoso cozido à portuguesa, passando depois muitas vezes para o David da Buraca, onde este prato era mais generosamente servido. Pelo caminho apareciam outros amigos, como o Fernando Laires, um dos fundadores da Casa de Angola em Lisboa, e o Francisco Soares, que não pôde estar aqui presente.
O assunto das conversas era naturalmente Angola, com os seus problemas de guerra, a sua pujança de sempre e essencialmente a saudade. E debatia-se a revista “Angoletras”, que o Jorge Macedo começou a fazer para a Casa de Angola, que não teve continuação por questiúnculas pouco claras.
Mesmo reconhecendo a datação e o enquadramento colonial da poesia do seu pai, Tomás Vieira da Cruz, o Tomás Jorge nunca deixou de o honrar pois, antes de mais, estava a qualidade e o seu inegável lirismo. De qualquer maneira, a forma como as novas autoridades trataram a estátua do seu pai, na rampa do Liceu Salvador Correia, destruindo-a pura e simplesmente, foi sempre uma mágoa que nunca perdoou.
Estando eu ligado a Constância, a terra do seu pai, onde a família Vieira da Cruz ainda é hoje gente grada, muitas vezes, nos últimos anos, o desafiei para lhe ir lá apresentar a família, mas o Tomás Jorge acabou por nunca decidir ir até lá. Também o desafiei a levá-lo ao primo, Carlos Alberto Vieira da Cruz, que dividiu comigo a chefia da redacção do Diário de Luanda, de 1972 a 1974, e hoje é considerado um bom fotógrafo em Lisboa, depois de passar pela África do Sul e pelo Diário de Notícias, mas também isso ficou pelo caminho. Como pelo caminho ficou o arranjo de dois contos tradicionais angolanos que a minha mulher, a pintora Helena Justino, lhe tinha encomendado para uma antologia que está a ilustrar. A doença já o minava e muitas vezes me deu conta de como tinha consciência do fim, em que eu não queria acreditar. Como ele tinha escrito anteriormente: «Hoje não trago nada para dizer/ sossega o teu rosto no meu peito/ repousa em mim tua tristeza.»
Como muito acertadamente escreveu a Laura Cavalcante Padilha em Biblos–Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, na poesia de Tomás Jorge «A solidariedade e a esperança de um mundo sem peias ou repressões são fortes núcleos temáticos no conjunto da obra. Ao mesmo tempo que denuncia a opressão, o eu lírico convoca o leitor para que se possa transformar o presente histórico do homem angolano, representado como um não-sujeito do seu próprio destino [...].»
Poeta nacionalista, grande declamador, bom garfo, bom conversador, bom homem, bem disposto sempre, bom amigo. Como ele próprio escreveu, «Tudo se gasta/ Nós vestimos de sonho/ Embelezamos com flores/ Tanta sucata!/ Mas a ilusão/ Também se gasta/ Sensação de ouro e prata/ De repente/ Lata.»
É este o meu preito de homenagem ao Tomás Jorge!
NOTA – Mensagem lida no dia 17 de Março de 2010 na sessão de homenagem ao poeta angolano Tomás Jorge, que lhe foi prestada por um grupo de amigos na Casa de Goa, em Lisboa. A iniciativa foi coordenada pelos Drs. Edmundo Rocha e Fernando Correia.
Vivendo eu em Angola desde 1963, quando o amigo Tomás Jorge, que hoje homenageamos a propósito do 1º aniversário da sua morte, vivia em Lisboa, só em 1975 viria a conhecê-lo, na companhia do Jorge Macedo, outro amigo recentemente desaparecido, com quem partilhava há muito anos convívio pelo menos semanal.
Depois do meu regresso a Portugal, em 1981, viria a encontrá-los de novo juntos, primeiro no João do Grão, onde nos passámos a encontrar semanalmente para degustar o famoso cozido à portuguesa, passando depois muitas vezes para o David da Buraca, onde este prato era mais generosamente servido. Pelo caminho apareciam outros amigos, como o Fernando Laires, um dos fundadores da Casa de Angola em Lisboa, e o Francisco Soares, que não pôde estar aqui presente.
O assunto das conversas era naturalmente Angola, com os seus problemas de guerra, a sua pujança de sempre e essencialmente a saudade. E debatia-se a revista “Angoletras”, que o Jorge Macedo começou a fazer para a Casa de Angola, que não teve continuação por questiúnculas pouco claras.
Mesmo reconhecendo a datação e o enquadramento colonial da poesia do seu pai, Tomás Vieira da Cruz, o Tomás Jorge nunca deixou de o honrar pois, antes de mais, estava a qualidade e o seu inegável lirismo. De qualquer maneira, a forma como as novas autoridades trataram a estátua do seu pai, na rampa do Liceu Salvador Correia, destruindo-a pura e simplesmente, foi sempre uma mágoa que nunca perdoou.
Estando eu ligado a Constância, a terra do seu pai, onde a família Vieira da Cruz ainda é hoje gente grada, muitas vezes, nos últimos anos, o desafiei para lhe ir lá apresentar a família, mas o Tomás Jorge acabou por nunca decidir ir até lá. Também o desafiei a levá-lo ao primo, Carlos Alberto Vieira da Cruz, que dividiu comigo a chefia da redacção do Diário de Luanda, de 1972 a 1974, e hoje é considerado um bom fotógrafo em Lisboa, depois de passar pela África do Sul e pelo Diário de Notícias, mas também isso ficou pelo caminho. Como pelo caminho ficou o arranjo de dois contos tradicionais angolanos que a minha mulher, a pintora Helena Justino, lhe tinha encomendado para uma antologia que está a ilustrar. A doença já o minava e muitas vezes me deu conta de como tinha consciência do fim, em que eu não queria acreditar. Como ele tinha escrito anteriormente: «Hoje não trago nada para dizer/ sossega o teu rosto no meu peito/ repousa em mim tua tristeza.»
Como muito acertadamente escreveu a Laura Cavalcante Padilha em Biblos–Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, na poesia de Tomás Jorge «A solidariedade e a esperança de um mundo sem peias ou repressões são fortes núcleos temáticos no conjunto da obra. Ao mesmo tempo que denuncia a opressão, o eu lírico convoca o leitor para que se possa transformar o presente histórico do homem angolano, representado como um não-sujeito do seu próprio destino [...].»
Poeta nacionalista, grande declamador, bom garfo, bom conversador, bom homem, bem disposto sempre, bom amigo. Como ele próprio escreveu, «Tudo se gasta/ Nós vestimos de sonho/ Embelezamos com flores/ Tanta sucata!/ Mas a ilusão/ Também se gasta/ Sensação de ouro e prata/ De repente/ Lata.»
É este o meu preito de homenagem ao Tomás Jorge!
Rodrigues Vaz
NOTA – Mensagem lida no dia 17 de Março de 2010 na sessão de homenagem ao poeta angolano Tomás Jorge, que lhe foi prestada por um grupo de amigos na Casa de Goa, em Lisboa. A iniciativa foi coordenada pelos Drs. Edmundo Rocha e Fernando Correia.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Homenagem
a
Tomás Jorge Vieira da Cruz:
Na Casa de Goa, em 17 de Março de 2010, em Lisboa
“Para todos,
para toda a Angola
sem faltar um grão de areia.
Minha Angola
meu corpo grande
meu corpo inteiro
que não morre
e constantemente se renova.
Eternidade
Com todos os areais
E baobás.
Dedico.”
In Talamungongo, pg 75, 2005,Ed. Kilombelombe, Luanda, Angola
Estamos reunidos hoje aqui para prestar uma singela Homenagem a um Homem bom, altruísta, amigo do seu amigo, um homem simples e modesto. Peço à assistência que guarde um minuto de silêncio em sua memória.
Permito-me agradecer ao Presidente da Casa de Goa, Dr.José Maria Furtado, por nos ter permitido usufruir deste espaço. Permito-me também lembrar que as relações com camaradas originários de Goa, não datam de hoje. Em 1951, conheci em França, um dos intelectuais goeses mais brilhantes, Aquino de Bragança, que deu uma contribuição notável aos movimentos de libertação das colónias portuguesas. Mais tarde, em 1960, fiz parte como vice presidente da Direcção da CEI, dirigida então pelo colega médico goês, Oscar Monteiro. Espero que esta reunião seja um principio para relações fraternas no futuro.
Permito-me também agradecer a presença de membros da Família do Tomás Jorge, sua esposa e seu filho Tomás, assim como dos seus numerosos amigos, a quem apresentamos desculpas pelo facto de celebrarmos esta Homenagem uma semana antes, por estritos motivos técnicos.
Por fim, permito-me agradecer a todos aqueles que acederam em dar a sua contribuição a esta Homenagem ao Tomás Jorge, um dos mais significativos Poetas da sua geração, uma estrela meteórica no firmamento da Poesia angolana.
Este abraço fraterno que todos nós damos ao Tomás estende-se também a todos os angolanos, escritores e políticos que desapareceram recentemente, deixando a cultura e a nossa sociedade mais pobres. Penso no Jorge Macedo, penso no Dundunma, penso no Graça Tavares, penso ainda no Gentil Viana e no António Cardoso, todos da geração dos anos cinquenta, camaradas de lutas comuns, cuja atitude corajosa permitiu a tomada de consciência dos angolanos face ao colonialismo.
Esse grupo de poetas, de prosadores e de pensadores, que aderiram ao grito libertador no movimento cultural “Vamos descobrir Angola” em 1948, seguiram uma evolução muito diversa.
Os mais radicais como Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade, e mais tarde, António Cardoso e Luandino Vieira, fizeram da pena uma arma de combate e de resistência e criaram os grupos políticos clandestinos em Luanda e na diáspora, que vieram a desembocar, mais tarde, no MPLA.
Outros seguiram outra via, que eu chamaria de “via cultural”. Com efeito, nos anos 50, Tomás Jorge integrou a Direcção da Sociedade Cultural de Angola, onde desenvolveu uma importante actividade na revista Cultura, e onde publica alguns dos seus poemas.
Por outro lado, em todos os sítios onde trabalhou, Saurimo, Lubango, Huige e Luanda, Tomás Jorge criou escolas clandestinas, que lhe permitiram transmitir a cultura, ensinar a ler e escrever aos seus conterrâneos. Foi uma atitude nobre, pela qual pagou com meses de cadeia e com a demissão compulsiva do funcionalismo aos 41 anos de idade.
À “sua maneira”, foi também um combatente pela nossa independência, tendo, após a libertação do país, sido membro fundador da União dos Escritores Angolanos.
Tomás Jorge sempre juntou a sua voz às vozes dos seus conterrâneos que sempre se bateram pela conquista de uma angolanidade inspirada no que os Homens têm de mais profundo: a conquista do respeito, da dignidade e a sede de liberdade.
Edmundo Rocha
Sigm a Arte do SérgioAmaral
Sigam a Arte do Sérgio Amaral
Intervir. Reflectir. Intervir para provocar reflexão. Intervir para provocar. Intervir para obrigar a pensar. Tudo isto tem a ver com a Arte. Porque só o homem é que faz Arte, só o homem é criador por excelência, tanto que até cria deuses, à sua própria imagem e semelhança.
Sérgio Amaral é um artista que, como eu próprio já tinha dito há uns anos, tem a obsessão de intervir, tem uma forma especial de sublinhar a sua mensagem «acabando por aparecer com a sua marca própria, como a assinatura exigida à sensibilidade transfiguradora do artista que, antes de mais, é um homem preocupado com o seu tempo.»
O criador dos Matarrachos, «esses estranhos seres que vieram em paz para a companhia dos homens, criados um pouco ao seu jeito» apresenta-nos agora o Projecto Segue-me, com que nos quer alertar para o perigo de seguir cegamente alguém ou alguma ideia, sem reflectir ou questionar os objectivos.
Num mundo como o que hoje vivemos, carregado de insegurança, o que leva muita gente a ansiar por seguir um chefe, como se isso fosse o suficiente para a felicidade comum, tem este aviso a conveniência de pôr em causa tal pretensão natural, mas perigosa, alertando-nos para o dever de seguir apenas o que a nossa consciência nos ditar como mais digno e mais justo, sem obediências a mitos e a meras ideologias abstractas.
O que, diga-se de passagem, pode ser, também, uma mera utopia. Mas o que interessa é isto mesmo: pôr também em causa esta mesma utopia, como forma de partir para novos horizontes e encontrar novas soluções. Como dizem os filósofos: a felicidade é uma coisa que nunca se alcança, a sua procura é que nos dá a verdadeira felicidade.
O homem dos Matarrachos, que se serviu sempre da cerâmica, a velha arte do fogo, que as religiões do Livro referem como base da origem da Humanidade, serve-se agora também do desenho e da pintura, numa forma de alargar o seu âmbito e dar largas às suas justas ambições de querer ir mais além, de completar a sua mensagem.
Sérgio Amaral, que realiza na cerâmica o máximo da sua capacidade de expressão, por razoes que têm a ver com o telurismo da região em que habita, mas também com as extensas possibilidades que a arte do fogo proporciona, abrindo campo a explorações estéticas de vários matizes, especialmente no que diz respeito aos volumes e cores, procura agora outras formas e outros meios para realizar mais totalmente a sua expressão.
Naturalmente ambicioso, este projecto exaustivo é, antes de mais, o corolário dos sonhos de um simples artesão, mas cuja perseverança, aliada a uma grande gana criativa, de alma e coração, o levaram a atingir píncaros inusitados como artista, depois de aprender saberes antigos e de manusear ferramentas com a habilidade natural dos verdadeiros dotados.
Rodrigues Vaz
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