sexta-feira, 19 de março de 2010

Homenagem

a

Tomás Jorge Vieira da Cruz:

Na Casa de Goa, em 17 de Março de 2010, em Lisboa



“Para todos,


para toda a Angola


sem faltar um grão de areia.


Minha Angola


meu corpo grande


meu corpo inteiro


que não morre


e constantemente se renova.






Eternidade


Com todos os areais


E baobás.


Dedico.”

In Talamungongo, pg 75, 2005,Ed. Kilombelombe, Luanda, Angola



Estamos reunidos hoje aqui para prestar uma singela Homenagem a um Homem bom, altruísta, amigo do seu amigo, um homem simples e modesto. Peço à assistência que guarde um minuto de silêncio em sua memória.

Permito-me agradecer ao Presidente da Casa de Goa, Dr.José Maria Furtado, por nos ter permitido usufruir deste espaço. Permito-me também lembrar que as relações com camaradas originários de Goa, não datam de hoje. Em 1951, conheci em França, um dos intelectuais goeses mais brilhantes, Aquino de Bragança, que deu uma contribuição notável aos movimentos de libertação das colónias portuguesas. Mais tarde, em 1960, fiz parte como vice presidente da Direcção da CEI, dirigida então pelo colega médico goês, Oscar Monteiro. Espero que esta reunião seja um principio para relações fraternas no futuro.

Permito-me também agradecer a presença de membros da Família do Tomás Jorge, sua esposa e seu filho Tomás, assim como dos seus numerosos amigos, a quem apresentamos desculpas pelo facto de celebrarmos esta Homenagem uma semana antes, por estritos motivos técnicos.

Por fim, permito-me agradecer a todos aqueles que acederam em dar a sua contribuição a esta Homenagem ao Tomás Jorge, um dos mais significativos Poetas da sua geração, uma estrela meteórica no firmamento da Poesia angolana.

Este abraço fraterno que todos nós damos ao Tomás estende-se também a todos os angolanos, escritores e políticos que desapareceram recentemente, deixando a cultura e a nossa sociedade mais pobres. Penso no Jorge Macedo, penso no Dundunma, penso no Graça Tavares, penso ainda no Gentil Viana e no António Cardoso, todos da geração dos anos cinquenta, camaradas de lutas comuns, cuja atitude corajosa permitiu a tomada de consciência dos angolanos face ao colonialismo.

Esse grupo de poetas, de prosadores e de pensadores, que aderiram ao grito libertador no movimento cultural “Vamos descobrir Angola” em 1948, seguiram uma evolução muito diversa.

Os mais radicais como Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade, e mais tarde, António Cardoso e Luandino Vieira, fizeram da pena uma arma de combate e de resistência e criaram os grupos políticos clandestinos em Luanda e na diáspora, que vieram a desembocar, mais tarde, no MPLA.

Outros seguiram outra via, que eu chamaria de “via cultural”. Com efeito, nos anos 50, Tomás Jorge integrou a Direcção da Sociedade Cultural de Angola, onde desenvolveu uma importante actividade na revista Cultura, e onde publica alguns dos seus poemas.

Por outro lado, em todos os sítios onde trabalhou, Saurimo, Lubango, Huige e Luanda, Tomás Jorge criou escolas clandestinas, que lhe permitiram transmitir a cultura, ensinar a ler e escrever aos seus conterrâneos. Foi uma atitude nobre, pela qual pagou com meses de cadeia e com a demissão compulsiva do funcionalismo aos 41 anos de idade.

À “sua maneira”, foi também um combatente pela nossa independência, tendo, após a libertação do país, sido membro fundador da União dos Escritores Angolanos.

Tomás Jorge sempre juntou a sua voz às vozes dos seus conterrâneos que sempre se bateram pela conquista de uma angolanidade inspirada no que os Homens têm de mais profundo: a conquista do respeito, da dignidade e a sede de liberdade.

Edmundo Rocha

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